quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Windows

A janela para a sala é tão grande e bonita que resolvi passar alguns minutos do meu dia ali, somente para ver o que acontece lá fora. Era algo tão confuso que eu acabei me perdendo, como se o que existisse ali não me deixasse enxergar corretamente, como se o ar que eu respirasse dentro de casa fosse mais puro que o lá de fora. Eu podia ver os cachorros passando e mordendo suas pulgas, o lixo sobrevoando o asfalto negro e quente debaixo de um céu cinza e amedrontador.
Não conseguia entender como há um passo de mim pessoas passavam e acenavam parecendo que me conheciam sendo que nunca estiveram próximos. Eles nunca estiveram ao meu lado, nunca entraram em minha casa e tomaram um café comigo em uma tarde na qual a cozinha ficava fresca e nós poderíamos ver meu cachorro correndo pela grama verde do quintal e sentir o gosto tão bom da cafeína descendo por nossas gargantar. Talvez, se ela quisesse fumar um cigarro, pararíamos na varanda dos fundos e aproveitaríamos o pôr do sol.
Porém, estranhamente, parecia que nada lá era assim. Mesmo que o sol iluminasse meu quintal, eu nunca o via pelo vidro. Mesmo que eu gritasse, ninguém lá de fora podia me ouvir. Mesmo que eu convidasse para entrar, ninguém sequer tentava.
Até hoje procuro entender o que se passa lá fora, mesmo sentindo medo do que possa acontecer. Sinto-me seguro aqui dentro mas quero quebrar este vidro. Talvez assim eu saiba o que acontece do outro lado da janela.